Eis um argumento estúpido. A informação que ele me traz não é nova. Sempre soube que a Terra continuaria por aí depois dos humanos. Mas, em primeiro lugar, a arrogância de querer controlar a natureza não se iniciou agora. Ela é a atitude antiga que possibilitou a Revolução Industrial, inclusive. Que o aquecimento global que vivemos atualmente está diretamente relacionado a atividades humanas, isso eu não preciso provar. Basta conferir os dados do IPCC - um grupo internacional de cientistas que há décadas se dedica a pesquisar as mudanças climáticas.
Tentar de alguma maneira evitar ou reduzir o fenômeno é o contrário da arrogância. É É tentar reduzir os efeitos dessa arrogância e deixar que o planeta siga seu devir em seu ritmo, E que esse ritmo nos inclua. Porque o que está em jogo é a velha questão suicida: eu acho que vale viver?
Pois bem, se você não acha, enquanto indivíduo, pode sempre recorrer a um tiro, ao gás, ao veneno. A questão é ética: se eu não acho e contribuo para o aquecimento global, estou decidindo não só por mim, mas pela humanidade. É um pensamento que tem um quê de genocídio, aliás, de plano de auto-extinção.
Se um dia eu achar que a vida não presta mesmo, me mato sem problemas. Mas não mato os outros por isso.
Além do mais, se considerarmos que as áreas mais afetadas pelo aquecimento global compreendem muito mais países pobres do que ricos, e que os países pobres têm menos condições do que os ricos de se defender desses efeitos, a coisa fica ainda mais séria.
O que me espanta é essa plateia - não me surpreenderia se fossem americanos - estar batendo palma e achando divertido. Ou ainda, não me espanta. É a mesma atitude dos que vão aos fóruns sobre o Windows 7 e falam: "Ah, a versão Starter [que, a propósito, eu tenho no meu netbook] não permite mudar o papel de parede? E daí? Essa versão é só para países em desenvolvimento. Eu estou nos EUA mesmo!"
Há uma diferença entre um tiro no próprio pé e um tiro no pé dos outros. George Carlin morreu, que descanse em paz. Se estivesse vivo, estaria do alto de sua torre de marfim dos comediantes assistindo de longe a Ásia, África e América Latina se inundando - como estamos vendo acontecer no Sudeste brasileiro -, as florestas secando - como estamos vendo acontecer na Amazônia-, e milhares de desabrigados e famintos cujos problemas seus governantes não têm - ou não querem ter - condições de resolver.

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