Valores, Grécia, Marx, Vernant

Compartilho e copio abaixo trechinho final de "A luta de classes", de Jean-Pierre Vernant, do livro Mito e sociedade na Grécia antiga. Pelo que ele aponta, o Marx já tinha uma sensibilidade (que, desconfio, como diz o Antonio, "os marxistas infelizmente não herdaram") muito grande ao pensar economia e antigüidade com os conceitos modernos por ele criados, ainda que o Agamben, pensando valor de troca e valor (princípio) de perda (ou sacrifício, não lembro bem) em Estâncias, se ache original e complementador de Marx ao apontar os limites de sua crítica do capitalismo.
O texto (do Vernant) é rico e interessante, indico a todos interessados em... Grécia, economia, sociedade, ontologia, essas coisas.
Essas observações preliminares foram ao mesmo tempo longas e bastante insuficientes. Seu objetivo era, sobretudo, lembrar que não se pode utilizar sem precaução o aparelho conceitual elaborado no estudo da sociedade contemporânea para aplicá-lo sem mudanças no mundo antigo. Contra a economia clássica, Marx afirma claramente o caráter histórico das categorias econômicas, que pôs em evidência em sua análise da sociedade moderna, onde tomaram a forma desenvolvida que conhecemos hoje. Marx pensa que tais categorias fornecem chaves para a compreensão do desenvolvimento social em seu todo. Proclama também, contudo, que essas categorias não são essências eternas; não existiram sempre. Assim, é preciso evitar projetá-las pura e simplesmente sobre sociedades não capitalistas; elas podem não se encontrar ali ou ser encontradas sob formas diferentes das que se revestem no quadro do capitalismo industrial. Quando utilizamos as noções de classe e luta de classes para aplicá-las ao mundo antigo, devemos desconfiar também dos anacronismos e permanecer fiéis à inspiração profundamente histórica do marxismo. (p. 23)